WWW.JORNALCR.BLOGSPOT.COM>WWW.JORNALCR.BLOGSPOT.COM

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

terça-feira, 2 de agosto de 2011

sábado, 30 de julho de 2011

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Segunda parte da entrevista - Wilson Gorj para Nilto Maciel

Segunda parte da entrevista - Wilson Gorj para Nilto Maciel (Fortaleza - Ceara)

NM – No início desta conversa, você falou em romance. Há mesmo o projeto de escrever um romance? Na fala acima, você diz que prefere identificar como mestres Machado, Pessoa e outros poetas, romancistas e contistas que não são (ou foram) praticantes do miniconto ou minipoema (exceção, talvez, do Quintana). Há, em você, o entendimento de que romance, conto longo e poema mais encorpado são obras mais elaboradas do que minicontos e minipoemas?

WG – Por enquanto não tenho nenhum projeto de romance. Tenho, sim, algumas ideias, um monte de esboços e rascunhos. Pode ser que um dia eu empreenda a produção de um enredo com mais fôlego e elaboração. Pode ser, mas não me frustrarei se isso não ocorrer. No meu entender, não é a extensão ou a categoria de uma obra que a torna superior à outra. Se há uma escada de evolução literária, os degraus certamente não são formados por gêneros ou tamanhos. Evoluir como escritor é aprimorar-se, elevar o nível da escrita, buscar um texto cada vez envolvente e eloquente, não importa se curto ou longo. A mim é preferível ver uma idéia estourar em uma única frase a vê-la diluída em muitas. Prefiro a certeza de que escrevi alguns minicontos bons a suspeita de ter publicado contos ou romances ruins.

NM – Há minicontos famosos, repetidos, imitados, como aquele do dinossauro (Monterosso), um de Hemingway, além daqueles mais espichados, com cerca dez linhas, como alguns de Kafka. Apesar disso, o miniconto parece não ter alcançado o prestígio do haicai. Como você isso?

WG – O miniconto (ou micronarrativa, como se convencionou chamá-lo) ainda terá o merecido reconhecimento. Em outros países isso não está longe de acontecer. Na Colômbia, por exemplo, há seis anos realizam um Congresso Internacional de Minificção. Pelo visto, ao menos por lá, os minicontos alcançam prestígio. Por aqui, é só uma questão de tempo. Até porque o haicai, a que você se refere, não se firmou da noite para o dia. De Bashô a Leminski permeiam quase dois séculos e meio de literatura. Cito, ainda, outro grande poeta nosso, igualmente associado ao haicai: Guilherme de Almeida. O que poucos sabem é que este deixou um pequeno livro cujos textos podem perfeitamente passar por minicontos (Histórias, talvez – Edições Melhoramentos). Aliás, não só o “Príncipe dos Poetas”, mas até Drummond publicou uma obra semelhante: Contos plausíveis, Editora Record. À época dessas publicações, esses textos curtos não eram apresentados (como atestam os referidos títulos) como minicontos. Tivessem sido lançados agora, aposto que não escapariam a essa associação.

NM – Em entrevista publicada recentemente, Vítor Nascimento Sá, do site Verbo 21 fez a seguinte pergunta a Astrid Cabral: “Nesse tempo de muita informação em pouco tempo, proliferam-se as modalidades de literatura curta (o miniconto, o microconto, os haicais) e o uso de diversos suportes como alternativas ao livro (os sites, blogs, microblogs). Qual o destino da literatura? Isso é algo que lhe preocupa?” E a poetisa respondeu assim: “O futuro da literatura não me preocupa. Acho que o ser humano, em que pesem as mudanças contínuas, preserva uma identidade de eterna insatisfação. Assim sendo, a arte e a religião são sempre absolutamente indispensáveis para suprir a sede da alma. A remotíssima história sempre nos apresenta formas do uso superior e não utilitário da palavra, hinos religiosos, oráculos, cânticos de trabalho, de guerra, de embalar crianças. Digamos que as formas e os suportes mudam ao correr dos tempos. Passamos dos tijolos cuneiformes da Babilônia aos e-books cibernéticos, mas o ímpeto criador e o pensamento feito palavra sempre sobreviverão”. Como se participássemos de um debate, como você responderia a pergunta?

WG – Não creio no fim da Literatura, mas prevejo-lhe, talvez, um destino parecido ao da Música Clássica, hoje delegada a um público ainda mais restrito do que em outras épocas. É notório que a Literatura vem perdendo terreno para outras formas de entretenimento e expressão como a televisão e a internet (embora esta última também lhe conceda novos espaços). Mas isso não chega a me preocupar, pois sei que a Literatura é insubstituível, insuperável. É mais do que divertimento e fonte de informação. É, sobretudo, libertadora. O convívio com os grandes livros nos liberta da estupidez: dos limites que esta nos impõe. Reafirmo o que disse em outra entrevista: no meu conceito a Literatura está acima da religião; se esta pretende nos salvar, tornando-nos melhores, aquela realiza esse propósito com mais competência e profundidade. A Literatura nos melhora porque potencializa nossas faculdades (expande nosso conhecimento, aguça nossa sensibilidade, dilata-nos a capacidade de compreensão e discernimento) e descortina novos horizontes, outras perspectivas.

NM – É possível alguém escrever mil minicontos bons? Ou, de um total de mil, poderão se salvar apenas dez, vinte ou mesmo cem? Parece-me que minicontos são meros exercícios de escrita. Entretanto, toda obra literária (artística, lato sensu) tem muito valor para seu autor. É o possível para ele. Os Lusíadas, para Camões; Dom Casmurro, para Machado; Ulisses, para Joyce. Pois o poeta português “só” escreveu “um” grande poema, embora sejam grandes todos os seus sonetos e poemas menores (em número de versos). Machado “só” escreveu quatro ou cinco romances excelentes. Joyce compôs “apenas” dois ou três romances fundamentais. São obras canônicas. Por outro lado, milhares de romances dos fulanos, milhões de contos dos beltranos, bilhões de poemas dos sicranos, que não são reconhecidos pelo cânone literário, são publicados infinitamente em livros, jornais, revistas e agora em blogues. A grande maioria dos minicontos não é apenas isto: o lixão da literatura?

WG – De certa forma, todo texto é um exercício de escrita, principalmente para quem está começando. Os minicontos, porém, são mais do que isso; pelo menos, para mim. Muitos dos meus textos demoram meses para ficar prontos. Dedico a eles o mesmo tempo e empenho que dedicaria a um conto ou romance. Às vezes acerto com eles, outras não. A probabilidade de escrever mil minicontos bons não é menor do que a de escrever mil poemas bons. Contudo, acho natural que se aproveite pouco do muito do que se escreve. Também é natural que dos textos aproveitados para publicação nem todos encontrem reconhecimento ou, quiçá, alguma permanência. A mim, no entanto, não me preocupa “permanecer” como escritor. Afinal de contas, se a posteridade não se lembrar de mim como tal, não estarei aqui para me frustrar. Mais do que o futuro, interessa-me o presente. Interessa-me escrever – e fazê-lo da melhor maneira que posso, eis tudo. Se escrevo minicontos é porque me dão prazer, me instigam, me provocam e, sobretudo, me estimulam a investir na literatura. Agora, se o que escrevo merece apreço ou desprezo, se deve ser mantido ou descartado, caberá o leitor decidir. Aliás, se encontrássemos este tal “lixão da literatura” seria difícil retirar de lá os minicontos imprestáveis, pois esses se perderiam na esmagadora profusão de outros textos ruins – romances, contos, poemas, crônicas – que nele já foram depositados.

Fortaleza/Aparecida, novembro de 2010.

Primeira parta da entrevista  link   https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCyNR5Ixx8BTuLArDhimG8pArpfbEULUxYVMdjjPJaXoypItw0FLUhlHLho5PTWY2cjHx2fQRSmBfU_3VCidfp__BKkScatb0HiiDqzeoWumcP3KS450irhjRsIMCrJL7nDQEHixKyx4zC/s1600/EDI%25C3%2587%25C3%2583O+66++2.jpg